Jeremias, filho do sacerdote Hilquias (não o sumo sacerdote da época de Josias), de Anatote, na terra de Benjamim, foi chamado por Deus para ser profeta desde muito jovem, no décimo terceiro ano do reinado de Josias (c. 627 a.C.). Deus declarou que o havia conhecido e consagrado antes mesmo de seu nascimento (Jeremias 1:1-10). Seu ministério se estendeu por mais de 40 anos, atravessando os reinados de Josias, Jeoacaz, Jeoaquim, Joaquim (Jeconias) e Zedequias, e continuando mesmo após a queda de Jerusalém em 586 a.C.
Sua mensagem central era um chamado urgente ao arrependimento diante da idolatria desenfreada, injustiça social e infidelidade à aliança por parte de Judá. Ele advertiu implacavelmente sobre o juízo iminente que viria através dos babilônios ("o inimigo do norte"), que resultaria na destruição de Jerusalém e do Templo, e no exílio do povo (Jeremias 7, 25, 26). Por causa dessa mensagem impopular, Jeremias enfrentou oposição e perseguição extremas de quase todos os setores da sociedade: reis (Jeoaquim queimou seu rolo profético - Jer 36), príncipes e oficiais (que o prenderam e jogaram numa cisterna lamacenta - Jer 37-38), sacerdotes (Pasur o açoitou e prendeu no tronco - Jer 20), falsos profetas (como Hananias, que contradizia suas profecias - Jer 28), e até mesmo seus próprios conterrâneos de Anatote (que tramaram matá-lo - Jer 11:18-23).
Jeremias é conhecido como o "Profeta Chorão" devido às suas profundas expressões de angústia pessoal e lamento pelo pecado de seu povo e pela destruição vindoura (Jeremias 9:1; Livro de Lamentações, tradicionalmente atribuído a ele). Suas "confissões" (encontradas em caps. 11-20) revelam sua luta íntima com Deus, seu sofrimento e sua sensação de isolamento.
Além das palavras, Deus instruiu Jeremias a realizar diversas ações simbólicas para comunicar Sua mensagem: usar um cinto de linho que apodreceu, quebrar um vaso de oleiro na frente dos líderes, usar jugos de madeira (e depois de ferro) para simbolizar a sujeição à Babilônia (Jeremias 13, 18, 19, 27-28). Durante o cerco final de Jerusalém, num ato de fé surpreendente, Deus o instruiu a comprar um campo em Anatote, sua cidade natal (que estava sob controle inimigo), como sinal de que propriedades ainda teriam valor e que haveria restauração futura na terra (Jeremias 32).
Em meio às mais sombrias profecias de juízo, Jeremias também transmitiu algumas das mais gloriosas promessas de esperança. Ele profetizou o retorno do exílio após 70 anos (Jeremias 25:11-12; 29:10) e, crucialmente, a estabelecimento de uma Nova Aliança: "Farei uma aliança nova [...] Porei a minha lei no seu interior e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo [...] perdoarei a sua maldade e não me lembrarei mais dos seus pecados" (Jeremias 31:31-34). Ele também falou sobre um futuro Rei justo da linhagem de Davi, o "Renovo justo" (Jeremias 23:5-6; 33:15-16).
Após a queda de Jerusalém em 586 a.C., os babilônios trataram Jeremias com respeito e lhe deram a opção de ir para a Babilônia ou permanecer em Judá. Ele escolheu ficar com o remanescente pobre sob o governador Gedalias. Contudo, após o assassinato de Gedalias por rebeldes judeus, o restante do povo, temendo represálias babilônicas, forçou Jeremias e seu escriba fiel, Baruque, a irem com eles para o Egito, contra o conselho explícito de Deus dado através do profeta (Jeremias 40-43). No Egito, Jeremias proferiu suas últimas profecias registradas, condenando a idolatria contínua dos refugiados judeus e anunciando o juízo sobre eles e sobre o próprio Egito (Jeremias 43-44). A tradição sugere que ele morreu no Egito, possivelmente martirizado pelos próprios compatriotas.