Saul, filho de Quis, um homem benjamita influente, foi o primeiro rei ungido sobre Israel. Sua escolha ocorreu num momento em que o povo de Israel, sentindo-se ameaçado pelos inimigos vizinhos (especialmente os filisteus) e desejando ser como as outras nações, pediu ao profeta Samuel um rei para governá-los (1 Samuel 8). Embora o pedido desagradasse a Samuel e a Deus (pois representava uma rejeição ao reinado direto de YHWH), Deus instruiu Samuel a atender à vontade do povo.
Saul foi escolhido por Deus de forma providencial. Enquanto procurava as jumentas perdidas de seu pai, encontrou Samuel, que já havia sido instruído por Deus a ungi-lo. Saul, descrito como alto e de boa aparência, inicialmente demonstrou humildade quanto à sua origem ("da menor das tribos... a menor de todas as famílias") (1 Samuel 9). Após ser ungido privadamente por Samuel e receber sinais confirmatórios (incluindo profetizar com um grupo de profetas), foi aclamado publicamente rei em Mispá, embora tenha se escondido entre a bagagem (1 Samuel 10). Sua liderança foi consolidada após uma vitória decisiva sobre os amonitas que ameaçavam Jabes-Gileade (1 Samuel 11).
Seu reinado inicial teve sucessos militares contra os filisteus, muitas vezes com a ajuda de seu valente filho Jônatas (1 Samuel 13-14). No entanto, Saul começou a demonstrar um padrão de desobediência e presunção. Em Gilgal, esperando por Samuel antes de uma batalha crucial contra os filisteus, Saul usurpou a função sacerdotal e ofereceu ele mesmo o holocausto. Samuel o repreendeu severamente e anunciou que seu reino não seria duradouro, pois Deus buscaria um "homem segundo o seu coração" (1 Samuel 13:8-14).
A desobediência decisiva ocorreu na campanha contra os amalequitas. Deus ordenou, através de Samuel, a destruição total (*herem*) de tudo e todos pertencentes aos amalequitas, como juízo por sua hostilidade passada contra Israel. Saul, porém, poupou o rei Agague e o melhor do gado, sob o pretexto de oferecê-los em sacrifício. Samuel confrontou Saul novamente, proferindo a famosa repreensão: "Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar [...] Porquanto rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei sobre Israel" (1 Samuel 15:22-23). Samuel então executou Agague ele mesmo e se afastou de Saul.
A partir daí, "o Espírito do SENHOR se retirou de Saul, e um espírito maligno, da parte do SENHOR, o atormentava" (1 Samuel 16:14). Sua vida tornou-se marcada pela instabilidade emocional, paranoia e um ciúme obsessivo por Davi, cuja popularidade e favor divino cresciam após a vitória sobre Golias. Saul tentou matar Davi com uma lança em múltiplas ocasiões, perseguiu-o implacavelmente pelos desertos de Judá, e chegou ao ponto de massacrar os sacerdotes de Nobe e suas famílias por terem ajudado Davi (1 Samuel 18-27).
Na véspera de sua última batalha contra os filisteus no Monte Gilboa, sentindo-se abandonado por Deus (que não lhe respondia nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas), Saul disfarçou-se e consultou uma médium em En-Dor, pedindo-lhe para invocar o espírito de Samuel. A aparição de Samuel confirmou a rejeição de Deus e predisse a derrota de Israel e a morte de Saul e seus filhos no dia seguinte (1 Samuel 28).
A profecia se cumpriu. Na batalha de Gilboa, os israelitas foram derrotados, e os filhos de Saul – Jônatas, Abinadabe e Malquisua – foram mortos. Saul, gravemente ferido por flecheiros e temendo cair nas mãos dos filisteus para ser torturado ou humilhado, pediu a seu escudeiro que o matasse. Diante da recusa do escudeiro, Saul caiu sobre sua própria espada, cometendo suicídio (1 Samuel 31; 1 Crônicas 10). Sua morte marcou o fim trágico do primeiro experimento monárquico de Israel e abriu caminho para a ascensão de Davi.