Samuel foi uma figura pivotal na história de Israel, atuando na transição do período dos Juízes para a Monarquia. Filho de Elcana (um levita efraimita) e Ana (que era estéril), seu nascimento foi uma resposta direta à oração fervorosa e ao voto de sua mãe no Tabernáculo em Siló (1 Samuel 1). Conforme prometido, Ana o dedicou ao serviço do Senhor desde pequeno, entregando-o aos cuidados do sumo sacerdote Eli em Siló (1 Samuel 1-2).
Ainda menino, enquanto servia no Tabernáculo, Samuel foi chamado diretamente por Deus durante a noite. Inicialmente confundindo a voz de Deus com a de Eli, ele finalmente respondeu: "Fala, SENHOR, porque o teu servo ouve". Deus lhe revelou o juízo iminente sobre a casa corrupta de Eli por causa da maldade de seus filhos, Hofni e Fineias (1 Samuel 3). Samuel cresceu, e "todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado como profeta do SENHOR" (1 Samuel 3:20).
Após a desastrosa derrota para os filisteus em Ebenézer, a captura da Arca da Aliança e a morte de Eli e seus filhos (1 Samuel 4), Samuel emergiu como o líder espiritual e político de Israel. Ele convocou o povo a se arrepender de sua idolatria em Mispá. Enquanto oferecia sacrifícios e intercedia, os filisteus atacaram, mas Deus interveio com grandes trovões, confundindo os inimigos e concedendo uma vitória decisiva a Israel. Samuel erigiu uma pedra memorial chamada Ebenézer ("Pedra de Ajuda") (1 Samuel 7).
Samuel julgou Israel por toda a sua vida, viajando em circuito anual por Betel, Gilgal e Mispá, e residindo em Ramá (1 Samuel 7:15-17). Quando envelheceu, nomeou seus filhos, Joel e Abias, como juízes em Berseba, mas eles se mostraram corruptos, aceitando subornos e pervertendo o juízo (1 Samuel 8:1-3).
A falha de seus filhos, juntamente com a ameaça contínua dos filisteus e o desejo de serem "como todas as nações", levou os anciãos de Israel a pedirem a Samuel que lhes constituísse um rei. Isso desagradou profundamente a Samuel (e a Deus), pois representava uma rejeição ao reinado direto de YHWH. No entanto, Deus instruiu Samuel a atender ao pedido do povo, mas não sem antes adverti-los solenemente sobre os direitos e as desvantagens de ter um rei (opressão, impostos, serviço militar - 1 Samuel 8).
Guiado por Deus, Samuel ungiu privadamente Saul, filho de Quis, da tribo de Benjamim, como o primeiro rei de Israel (1 Samuel 9-10). Mais tarde, confirmou a escolha publicamente por sorteio em Mispá e na aclamação após uma vitória militar em Gilgal. Em seu discurso de despedida como juiz principal, Samuel reafirmou sua própria integridade e exortou o povo e o rei a temerem e servirem ao Senhor fielmente (1 Samuel 12).
Contudo, o reinado de Saul foi marcado pela desobediência. Samuel teve que repreendê-lo severamente em duas ocasiões: primeiro por oferecer um sacrifício ilegalmente em Gilgal (1 Samuel 13), e depois, de forma definitiva, por desobedecer à ordem de Deus de destruir completamente os amalequitas (poupando o rei Agague e o melhor do gado - 1 Samuel 15). Nesta ocasião, Samuel proferiu a famosa frase: "Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar...". Ele anunciou a rejeição final de Saul por Deus como rei.
Apesar de seu luto por Saul, Deus enviou Samuel a Belém para ungir secretamente um novo rei dentre os filhos de Jessé. Após rejeitar os irmãos mais velhos, Samuel ungiu o jovem pastor Davi (1 Samuel 16). Mais tarde, Samuel ofereceu refúgio a Davi em Ramá quando este fugia da perseguição de Saul (1 Samuel 19:18-24).
Samuel morreu em idade avançada e foi sepultado em sua casa, em Ramá, sendo lamentado por todo o Israel (1 Samuel 25:1). Sua figura póstuma aparece controversamente quando Saul, desesperado antes de sua última batalha, consulta uma médium em En-Dor que invoca o espírito de Samuel, que lhe prediz a derrota e a morte (1 Samuel 28). Samuel é lembrado como um líder fiel, um profeta poderoso cuja palavra não falhava, e o instrumento de Deus na transição crucial para a monarquia em Israel.