Davi, o mais novo dos oito filhos de Jessé, de Belém, na tribo de Judá, iniciou sua vida como um humilde pastor de ovelhas. Sua trajetória tomou um rumo inesperado quando foi escolhido e secretamente ungido pelo profeta Samuel para ser o futuro rei de Israel, enquanto Saul ainda reinava, pois Deus havia rejeitado Saul devido à sua desobediência (1 Samuel 16). Davi ganhou notoriedade inicialmente por sua habilidade musical, tocando harpa para acalmar o espírito atormentado de Saul, e por sua extraordinária coragem demonstrada ao derrotar o gigante filisteu Golias com uma funda e uma pedra, em nome do SENHOR dos Exércitos (1 Samuel 17).
Sua crescente popularidade e seus sucessos militares despertaram o ciúme doentio de Saul, que passou a persegui-lo implacavelmente. Davi viveu anos como fugitivo, liderando um bando de homens leais, escondendo-se em desertos e cavernas, e até buscando refúgio entre os filisteus. Durante esse período de adversidade, Davi demonstrou notável integridade e caráter ao poupar a vida de Saul em duas ocasiões distintas, reconhecendo-o como o ungido do Senhor (1 Samuel 24, 26). Nesse tempo, desenvolveu também uma profunda e leal amizade com Jônatas, filho de Saul, que o protegeu dos intentos de seu pai.
Após a trágica morte de Saul e Jônatas na batalha contra os filisteus, Davi expressou seu profundo lamento em um belo cântico fúnebre (2 Samuel 1) e foi aclamado rei pela tribo de Judá em Hebrom, onde reinou por sete anos e meio (2 Samuel 2). Após um período de guerra civil contra a casa de Saul, liderada por Abner e Isbosete, as outras tribos de Israel também o reconheceram como seu rei, unificando o reino sob sua liderança. Davi então conquistou a estratégica fortaleza jebusita de Jerusalém (Sião), estabelecendo-a como a capital política e religiosa neutra do reino unificado (2 Samuel 5). Para lá, ele trouxe a Arca da Aliança em meio a grande celebração e júbilo (2 Samuel 6).
Um momento crucial em seu reinado foi a Aliança Davídica, estabelecida por Deus através do profeta Natã (2 Samuel 7). Nesta aliança eterna, Deus prometeu a Davi que um de seus descendentes construiria uma casa para o nome do Senhor (o Templo) e que seu trono seria estabelecido para sempre. Esta promessa tornou-se o alicerce da esperança messiânica em Israel, com o futuro Messias sendo esperado como o "Filho de Davi". Sob a liderança de Davi, o reino de Israel experimentou significativa consolidação e expansão territorial através de sucessivas vitórias militares sobre as nações vizinhas, incluindo os filisteus, moabitas, sírios, amonitas e edomitas.
Entretanto, o auge de seu reinado foi dolorosamente manchado por um grave pecado que teve consequências profundas e duradouras. Davi cometeu adultério com Bate-Seba, a esposa de Urias, um de seus mais leais e valentes soldados hititas. Para encobrir a gravidez resultante desse pecado, Davi orquestrou a morte de Urias, enviando-o para a frente de batalha com ordens secretas para que fosse abandonado à morte (2 Samuel 11). O profeta Natã confrontou Davi corajosamente com uma parábola perspicaz, levando o rei a um profundo e sincero arrependimento, lindamente expresso no Salmo 51. Embora tenha recebido o perdão de Deus, as consequências de seu pecado foram severas, incluindo a morte do filho nascido do adultério e uma série de tragédias familiares e instabilidades em seu reino, como o estupro de sua filha Tamar por seu meio-irmão Amnon, a vingança e a rebelião liderada por seu filho Absalão (que quase o destronou), e a subsequente revolta de Seba.
Nos seus últimos anos de vida, Davi demonstrou um coração voltado para Deus ao organizar detalhadamente os levitas, os músicos e os sacerdotes para o futuro culto no Templo. Ele também acumulou uma vasta quantidade de materiais preciosos para a construção do Templo, que seria finalmente realizado por seu filho e sucessor, Salomão. Após frustrar uma última tentativa de usurpação do trono por seu filho Adonias, Davi assegurou a sucessão de Salomão como rei de Israel. Davi morreu aos 70 anos de idade, após um reinado de 40 anos sobre Israel, e foi sepultado com honras na Cidade de Davi (1 Reis 1-2). Sua memória perdura como a do maior rei de Israel, um guerreiro valente e bem-sucedido, um músico e poeta inspirado, autor de muitos dos Salmos, e, acima de tudo, um homem descrito como "segundo o coração de Deus" (Atos 13:22) por sua fé genuína e sua capacidade de se arrepender sinceramente. Além disso, Davi ocupa um lugar central na genealogia bíblica como o ancestral humano de Jesus Cristo, o Messias prometido.